Resumo
Ana Luiza Nunes Martins apresentou uma definição e epidemiologia abrangente da bronquiectasia, destacando sua patogênese multifatorial e as diversas etiologias, manifestações clínicas e métodos diagnósticos. Wilson Rocha e Chaline Mezencio discutiram a reversibilidade da doença, com Wilson Rocha explicando que a reversibilidade é mais comum na bronquiectasia cilíndrica e enfatizando a importância da intervenção precoce em casos de ateleectasia persistente em pediatria para prevenir a progressão para bronquiectasia. Wilson Rocha também abordou as limitações da inaloterapia, as indicações e riscos da lobectomia e embolização, e forneceu informações adicionais sobre a inflamação neutrofílica, a síndrome de Kartagener e as características da bronquiolite obliterante e aspergilose broncopulmonar alérgica.
Detalhes
- Definição e Epidemiologia da Bronquiectasia Ana Luiza Nunes Martins definiu a bronquiectasia como uma dilatação anormal e irreversível dos brônquios devido à inflamação crônica e destruição da parede brônquica. No entanto, ela ressaltou que, na pediatria, a condição pode ser freada e até revertida se diagnosticada e tratada precocemente. A incidência da doença varia globalmente, sendo subestimada em países com poucos recursos diagnósticos.
- Patogênese da Bronquiectasia A patogênese da bronquiectasia é multifatorial e centrada em um “círculo vicioso” que envolve infecções bacterianas recorrentes, inflamação crônica, dano estrutural das vias aéreas e ineficiência dos mecanismos de limpeza mucociliar. A interação desses fatores leva à lesão tecidual, enfraquecendo a parede brônquica e perpetuando o ciclo.
- Achados Histopatológicos e Localização Histopatologicamente, a bronquiectasia apresenta dilatação e inflamação da parede brônquica, principalmente nas vias aéreas periféricas, com edema, destruição da elastina e cartilagem, e infiltrado de células mononucleares. As localizações mais comuns são os lobos inferiores, especialmente o esquerdo, devido às dificuldades de aeração e drenagem contra a gravidade.
- Classificação das Bronquiectasias A classificação da bronquiectasia pode ser por origem (congênita ou adquirida), por padrão histológico (cilíndrica, varicosa ou cística), e por distribuição radiológica (localizada ou difusa). As formas adquiridas são mais comuns.
- Etiologias da Bronquiectasia Diversas condições podem predispor à bronquiectasia, incluindo infecções recorrentes (como pneumonias e tuberculose), aspiração crônica, imunodeficiências primárias e secundárias, doenças estruturais e funcionais (como discinesia ciliar primária), e doenças sistêmicas inflamatórias (asma grave e doenças autoimunes).
- Manifestações Clínicas As manifestações clínicas da bronquiectasia incluem tosse crônica e produtiva, exacerbações infecciosas frequentes, e sibilos à ausculta pulmonar. Em casos avançados, pode haver dispneia, cianose, hipoxemia, déficit de crescimento e ganho ponderal, e hemoptise, embora esta seja menos comum em crianças.
- Diagnóstico da Bronquiectasia O diagnóstico clínico da bronquiectasia baseia-se na história de infecções respiratórias de repetição e tosse crônica produtiva. A tomografia de alta resolução com cortes finos é o padrão ouro, revelando achados como o sinal do anel de sinete, trilho de trem, árvore em brotamento e perfusão em mosaico. Outros exames complementares incluem prova de função pulmonar e cultura de escarro, e a investigação etiológica é direcionada pela história clínica do paciente.
- Reversibilidade e Tipos de Bronquiectasia Chaline Mezencio expressou dúvidas sobre a reversibilidade da bronquiectasia após a instalação, sugerindo que a prevenção da progressão seria mais provável. Wilson Rocha corroborou, explicando que a reversibilidade é mais comum na bronquiectasia cilíndrica, onde a estrutura brônquica permanece intacta. Ele destacou que a bronquiectasia varicosa ou cística, que envolvem lesões irreversíveis, são mais difíceis de reverter.
- Atelelectasia e Bronquiectasia Wilson Rocha enfatizou a preocupação com a ateleectasia persistente na pediatria, pois ela predispõe à infecção e ao desenvolvimento de bronquiectasia. Ele ressaltou a importância da intervenção precoce, como a broncoscopia para remover corpos estranhos ou rolhas de muco, para evitar a progressão da ateleectasia para bronquiectasia.
- Inflamação Neutrofílica e Macrolídeos Wilson Rocha explicou que a inflamação nas bronquiectasias é neutrofílica, com alta produção de interleucina-8, o que torna o macrolídio uma opção terapêutica interessante. Ele mencionou um trabalho clássico da Endang que descreve como o macrolídio atua diminuindo a expressão da interleucina-8.
- Síndrome de Kartagener e Discinesia Ciliar Wilson Rocha corrigiu o conceito de que 50% dos pacientes com discinesia ciliar têm síndrome de Kartagener. Ele esclareceu que apenas cerca de 30% dos pacientes com situs inversus totalis têm discinesia ciliar, e nem todo situs inversus totalis é sinônimo de discinesia ciliar.
- Características da Bronquiolite Obliterante e Aspergilose Broncopulmonar Alérgica Wilson Rocha explicou que a bronquiectasia na bronquiolite obliterante é principalmente por tração devido à obstrução bronquiolar e as áreas de ateleectasia e hiperinsuflação. Ele também destacou que a aspergilose broncopulmonar alérgica causa bronquiectasias centrais, afetando brônquios maiores, diferentemente das bronquiectasias periféricas.
- Complicações e Prognóstico As complicações da bronquiectasia incluem pneumonia de repetição, pneumotórax, abscesso pulmonar e hemoptise. O prognóstico tem melhorado significativamente devido ao aprimoramento dos métodos diagnósticos e terapêuticos. Fatores favoráveis para a evolução incluem doença localizada e ausência de rinossinusopatia ou doença pulmonar obstrutiva.
- Tratamento da Bronquiectasia O tratamento da bronquiectasia visa tratar as exacerbações, diminuir a progressão da doença e reverter o quadro em alguns casos. Os pilares incluem remoção de secreções (fisioterapia respiratória), normalização do estado nutricional, prevenção e tratamento de infecções, suporte psicossocial e controle de comorbidades. Antibióticos são a base para o tratamento das exacerbações, guiados por cultura e antibiograma, podendo ser administrados por via oral ou intravenosa em casos graves. O uso crônico de antibióticos inalados (como tobramicina) e macrolídeos em doses baixas (como azitromicina) pode reduzir as exacerbações em pacientes selecionados.
- Terapias Adjuvantes e Considerações Específicas Mucolíticos não são de uso rotineiro, com a salina hipertônica sendo usada em situações especiais para fluidificar a secreção. Broncodilatadores são indicados apenas para pacientes com asma coexistente ou hiperreatividade brônquica. Corticosteroides (inalatórios ou orais) são reservados para casos selecionados, como pacientes asmáticos ou com aspergilose broncopulmonar. O tratamento cirúrgico, como a ressecção lobar, é uma alternativa para casos muito selecionados, principalmente em bronquiectasias localizadas e refratárias ao tratamento clínico.
- Limitações da Inaloterapia e Avanços no Tratamento da Fibrose Cística Wilson Rocha discutiu que, ao iniciar o ambulatório de fibrose cística, muitos pacientes usavam beta2 de longa duração com corticoide sem necessidade, mas essa prática diminuiu. Eles enfatizaram que a inaloterapia para bronquiectasias e fibrose cística é limitada, pois a maioria das vias aéreas é de pequeno calibre, e a inaloterapia atinge apenas grandes vias. Wilson Rocha apresentou um exemplo de um paciente com fibrose cística que, após anos com função pulmonar baixa, teve uma melhora significativa com um corretor de CFTR, sugerindo que o tratamento sistêmico é mais eficaz do que a inaloterapia na limpeza de secreções.
- Indicações e Riscos da Lobectomia e Embolização Wilson Rocha abordou a indicação de lobectomia para bronquiectasia não-fibrocística localizada e infectada, mas ressaltou que o uso de macrolídeos a longo prazo reduziu essa necessidade. Eles mencionaram um caso de uma paciente com fibrose cística que teve hemoptise recorrente e foi tratada com embolização, evitando a lobectomia. Wilson Rocha também alertou sobre os riscos da embolização de artérias brônquicas, pois há a possibilidade, embora incomum, de paraplegia devido a anomalias anatômicas que irrigam a coluna.
- Comentários sobre a Apresentação e Recursos Online Wilson Rocha encerrou a discussão da aula elogiando a apresentação de Ana Luiza Nunes Martins, destacando a habilidade de Ana Luiza Nunes Martins em falar em público e transmitir a mensagem. Eles sugeriram que Ana Luiza Nunes Martins aprimore a colocação de referências em cada slide, em vez de deixá-las para o final, especialmente para apresentações em congressos. Wilson Rocha também informou que as aulas e suas gravações, incluindo as falas de todos os participantes, estão disponíveis no site do ambulatório, acessível pela seção de programação científica.
